A política de alianças para as eleições de 2026 está marcada por um jogo de narrativas que deixa claro o quanto o eleitorado é levado de um lado para o outro, entre discursos de confronto e acordos de bastidor. A relação entre o bolsonarismo e o PSD ilustra bem essa dinâmica: enquanto na superfície o discurso aponta para uma oposição radical, nos bastidores as lideranças buscam se articular para garantir apoio e viabilidade eleitoral.
Em 2024, o deputado Nikolas Ferreira liderou uma campanha pública de críticas duras ao PSD, classificando o partido como um “instrumento do sistema” e acusando-o de atuar contra os interesses da direita e do povo brasileiro. Essas declarações serviram para alimentar a percepção de que havia um conflito genuíno entre o bolsonarismo e o PSD, reforçando a mobilização da base contra um inimigo comum.
No entanto, a realidade política é outra. Enquanto a base era levada a acreditar em uma ruptura, Bolsonaro e seus aliados mantinham conversas e costuravam acordos com Gilberto Kassab, presidente do PSD, demonstrando que a “briga” era, em grande parte, uma construção estratégica para manter o eleitorado engajado.
A questão da anistia aos envolvidos nos atos do dia 8 de janeiro exemplifica esse jogo. O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), declarou que a anistia “não está em discussão no Senado”, mas Bolsonaro chegou a afirmar que Pacheco barraria a medida para “se cacifar” no Supremo Tribunal Federal (STF)”. Enquanto isso, as lideranças do PSD e do bolsonarismo seguiam costurando alianças para 2026.
Em 2025, essa reaproximação foi simbolizada publicamente quando Bolsonaro entregou a Kassab a “medalha imbrochável” durante um evento em São Paulo, gesto que desmente as duras críticas públicas do ano anterior e expõe a manipulação das narrativas para acomodar interesses políticos.
Esse movimento não passa despercebido para parte da base bolsonarista, que se vê confrontada com a incoerência entre o discurso radical e as práticas de composição política.
Renan Santos, líder do Movimento Brasil Livre (MBL), expressa essa insatisfação ao apontar que o eleitorado foi levado a acreditar numa disputa real que, na prática, sempre teve caráter de encenação.
No final, o que se desenha é um jogo político que utiliza narrativas conflitantes para controlar e direcionar o eleitorado, enquanto as decisões que realmente importam são tomadas longe dos olhos do público, em um teatro de aparências que esconde o verdadeiro alinhamento entre as forças políticas.