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Belchior: Um Complexo Centro-Nortista em Forma de Canção.

Por que todo nordestino e nortista deve ouvir e entender Belchior?
Escrito por

atualizado há

1 semana atrás
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Estar incomodado com a realidade em que vive é rotineiro na vida de alguns jovens centro-nortistas. É na fuga dessa verdade que muitos se aventuram, mudando de suas cidades e estados, em busca de uma vida melhor nas movimentadas capitais de São Paulo e de outros estados do centro-sul. É esse sentimento inquieto, que toma o coração agoniado por uma mudança, que Belchior entendeu muito bem, pois ele mesmo saiu de sua cidade no interior do Ceará para tentar a vida que sua localidade não lhe permitia.

Muito desse sentimento também está preso na sensação de se sentir um inquilino dentro da própria casa: a língua que você fala não é a mesma de seus familiares e conhecidos; o tempo em que você vive passa diferente para aqueles ao seu redor; seus pensamentos não convergem com os planos de seus observadores. Essa agonia é sutilmente retratada na música “Hora do Almoço”, do primeiro álbum de Belchior, Mote e Glosa, de 1974, e caracteriza muito bem uma típica família brasileira — sobretudo nordestina.

Os dois primeiros álbuns do artista relatam muito bem esse desejo de mudança, mas deixam claro que essa mudança não é imediata, muito menos isenta de sofrimento. Suas canções narram, de maneira crua e experiente, a história que ele próprio viveu — de um “jovem que desceu do Norte e que no Sul viveu na rua” a “pois o que pesa no Norte, pela lei da gravidade… cai no Sul, grande cidade”, trechos da canção “Fotografia 3×4”.

Trabalhos insalubres, falta de oportunidades para assinar carteira e até a possibilidade de não conseguir uma moradia são problemas lembrados por Belchior, voltados àqueles que, na época, sonhavam fugir do que lhes causava aflição. Passagens como “pessoas cinzas normais”, “o movimento do tráfego” e “a violência da noite” — jogo de palavras que remete tanto à falta de segurança pública quanto à solidão e aos sentimentos ruins que surgem durante a noite — deixam clara a angústia diante da vida nas metrópoles. Viver essa realidade era sua “Alucinação”, música que dá nome ao segundo álbum do compositor, em 1976, e que alavancou sua carreira após regravações de canções suas por Elis Regina, grande amiga do cantor no período.

Arte cordel da migração nordestina - Via CDN

O grande fluxo de migrações nordestinas e nortistas para o Centro-Sul brasileiro continua sendo uma realidade. O baixo desenvolvimento dessas regiões, até hoje, faz com que pessoas desiludidas com o potencial de sua terra procurem novos rumos em outros estados. A reflexão aqui é que, “Como Nossos Pais”, estamos nos enganando ao achar que a mudança vem ao se locomover — e não ao tentar modificar a realidade à nossa volta. Belchior, mesmo com todo o sofrimento no início da carreira, estava conformado com a maneira como vivia na cidade grande. Anos mais tarde, a inconformidade com a mudança dos tempos o levou à reclusão no Uruguai.

Mesmo que o índice de fuga seja muito alto, os de retorno — pela saudade ou pela quebra de expectativas — não são irrelevantes. Os que venceram de verdade em outros estados são poucos; os que se mantiveram, acomodaram-se em empregos medianos. O que realmente devemos fazer é não nos conformar com o mundo feio ao redor — nem nos excluir —, pois tornar nosso berço em casa é uma missão importante.

Se estes sentimentos — os de não pertencimento, a vontade de mudar de sua terra natal ou, se de fato já mudou — te acompanham, recomendo fortemente as canções de Belchior, o Bob Dylan brasileiro.

Sobre o autor
Foto de John Robert

John Robert

Pensador e influenciador político, alexandrino pela Academia MBL e articulista pelo Brasil de Cima.
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