Compra da LOT expõe custo diplomático para a Embraer
A decisão da companhia aérea LOT Polish Airlines de adquirir 40 jatos Airbus A220 representa mais do que uma renovação de frota. Para o Brasil, o movimento sinaliza a perda de um mercado estratégico em meio a uma política externa que tenta equilibrar interesses entre potências rivais.
A escolha ocorreu no Salão de Paris, vitrine global da aviação comercial. A Embraer estava entre as finalistas, mas foi superada por uma proposta tecnicamente sólida da Airbus — e, segundo fontes próximas à negociação, também por razões políticas.
A disputa envolvia um contrato estimado em cerca de US$ 3,5 bilhões, entre encomendas firmes e opções futuras. Caso a Embraer fosse escolhida, teria consolidado sua presença no leste europeu e garantido receita vital para sustentar sua linha E2.
A perda expõe não apenas a força da Airbus, mas também os custos indiretos de um Brasil menos alinhado com as grandes decisões da União Europeia.
Airbus vence e reforça alianças europeias
Com promessa de eficiência de combustível e maior capacidade operacional, o A220 agradou a LOT. Mas o ponto decisivo foi a articulação entre França e Polônia, que buscavam aprofundar vínculos industriais e militares.
A presença de autoridades francesas no anúncio deixou claro o peso político do negócio. A Airbus ofereceu mais do que aviões: entregou uma aliança estratégica entre dois países da União Europeia.
Lula e Putin: um gesto observado de perto
Nos bastidores, a neutralidade do Brasil na guerra da Ucrânia e os sinais de aproximação com a Rússia de Vladimir Putin levantaram alertas entre governos europeus.
A visita de Lula ao desfile de 9 de maio em Moscou, em meio a tensões com o Ocidente, gerou desconforto entre aliados tradicionais.
Mesmo sem declarações oficiais de retaliação, a leitura no setor é clara: o Brasil enviou sinais ambíguos em um momento de forte divisão internacional. Isso acabou respingando na Embraer, vista como símbolo tecnológico do país.
Analistas apontam que a neutralidade brasileira, embora vista como equilibrada em fóruns multilaterais, pode estar comprometendo oportunidades reais de mercado em países sensíveis ao alinhamento com o Ocidente.
A política externa atual, ao flertar com Moscou, parece colidir com interesses industriais nacionais — como o da Embraer — em regiões estratégicas da Europa.
Embraer ainda tem raízes na Polônia
A LOT operava, até então, com jatos da Embraer desde o fim dos anos 1990. Mais recentemente, introduziu o E195-E2 e firmou acordos para suporte técnico com a fabricante brasileira.
Além disso, a Embraer tem operações industriais na Polônia e fornece peças da linha E2 a partir do leste europeu.
Mesmo assim, essas credenciais não foram suficientes diante do novo cenário geopolítico e da força política da Airbus.
Entregas começam em 2027
As primeiras aeronaves devem ser entregues à LOT a partir de meados de 2027. A nova frota servirá rotas regionais, ampliará a capacidade nos hubs poloneses e fortalecerá a estrutura do futuro Centralny Port Komunikacyjny, o novo aeroporto central do país.
Isolamento crescente do Brasil na indústria aeroespacial europeia
Enquanto a Airbus avança com acordos estratégicos na Europa Central, o Brasil vê sua influência enfraquecer. A tentativa de manter posição neutra no cenário internacional está tendo efeitos indesejados no comércio exterior e no setor de alta tecnologia.