Nomeado em 30 de maio de 2023, o diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Luiz Fernando Corrêa, foi indiciado pela Polícia Federal e terá seu caso acompanhado de perto pelo Palácio do Planalto. Apesar do relatório da PF afirmar que o chefe da Abin teria tentado ativamente obstruir a investigação, Lula julga que isso não é motivo suficiente para substituí-lo.
Corrêa tem um histórico de parceria com o presidente Lula. Durante os dois primeiros mandatos do petista, o delegado aposentado da PF foi secretário nacional de Segurança Pública do Ministério da Justiça e diretor-geral do Departamento de Polícia Federal (DPF). Recentemente, foi novamente escolhido por Lula para comandar a Abin, recebendo a missão de reformular o órgão para tornar mais ágil o fluxo de informações.
Indiciado por prevaricação, obstrução de investigação e coação — com uso de assédio moral e intimidação contra servidores —, a suposta tentativa de Corrêa de impedir o andamento do inquérito da “Abin Paralela” aparentemente não foi motivada pelo desejo de proteger o ex-presidente Bolsonaro, mas sim por uma tentativa de manter os grandes poderes que a Abin recebeu durante o governo anterior.
Durante o governo de Jair Bolsonaro, a Abin utilizou, sem autorização judicial, um sistema de monitoramento que rastreava a localização de celulares, chamado FirstMile. Essa ferramenta de espionagem teria sido usada contra ministros do STF, os ex-presidentes da Câmara Arthur Lira e Rodrigo Maia, o ex-governador de São Paulo, João Doria, Kim Kataguiri e Renan Santos, membros do Movimento Brasil Livre (MBL), entre outros desafetos do ex-presidente.
A tentativa de Corrêa de proteger a agência traz à tona outro fator: a disputa por protagonismo entre a Abin e a Polícia Federal. Essa briga toma forma nas figuras de Corrêa — próximo do ministro da Casa Civil, Rui Costa — e Andrei Rodrigues, diretor-geral da PF — aliado do ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, e da primeira-dama, Janja. O confronto se aprofundou ainda mais com o avanço das investigações sobre a “Abin Paralela” conduzidas pela PF.
A PF aponta que, em março de 2023, Corrêa participou de uma reunião com Paulo Maurício Fortunato Pinto e Alessandro Moretti. Segundo relatório da Polícia Federal, a pauta desse encontro era traçar estratégias para “embaraçar a investigação federal” e transferir a apuração para a própria Abin e para o STF, com o objetivo de tirar a PF da jogada.
Fortunato foi diretor do Departamento de Operações de Inteligência (DOINT) e idealizador da aquisição do FirstMile. Ele foi exonerado por Alexandre de Moraes em outubro de 2023. Além disso, Moretti sempre foi visto com desconfiança pelos petistas, por ter sido aliado de Anderson Torres — ex-ministro da Justiça de Bolsonaro —, que teve uma minuta de golpe de Estado encontrada em sua casa pela PF. Em janeiro de 2024, Moretti foi demitido por Lula.
Agora está nas mãos de Lula decidir: demitir Luiz Fernando Corrêa, seu companheiro de longa data, satisfazer o desejo da PF de investigar a fundo a Abin — consequentemente, fechando a Caixa de Pandora aberta por Bolsonaro —, ou tentar apaziguar os lados usando a velha fórmula anedótica do petista: juntar todos numa mesa de bar e costurar acordos.
